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Author: rupereta servindo sempre



1.      INTRODUÇÃO


Romanos 1:17  Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé. (ARC)
Romanos 1:17  visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. (ARA)
Romanos 1:17 Pois o evangelho mostra como é que Deus nos aceita: É por meio da fé, do começo ao fim. Como dizem as Escrituras Sagradas: "Viverá aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus."(BLH)

O que chamaremos de Grito da Reforma é um breve comentário acerca da bandeira que a Reforma Protestante levantou há quase quinhentos anos. Grito porque os ouvidos se faziam surdos naquela época. Grito porque uma voz mais alta precisava ecoar. Grito porque a angústia nas almas era demais. Grito porque a voz necessitava ser ouvida. Na época em que novos continentes estavam sendo descobertos, em que o Brasil aparecia no cenário internacional, o homem descobria o que é liberdade religiosa. Sim, porque o grito da Reforma foi um grito pela liberdade. Liberdade para viver pelas escrituras. Liberdade para viver com Cristo. Liberdade para viver com a graça de Deus. Liberdade para viver pela fé. Se a Reforma seguiu outros caminhos posteriormente, é uma outra história.
Queremos aqui resgatar a essência do que foi a Reforma. O versículo predileto de Martinho Lutero, o “Pai da Reforma”, Romanos 1.17, servirá de base para o nosso estudo. Nele identificaremos quatro frases que tornaram-se a marca registrada deste que foi um dos maiores movimentos religiosos de todos os tempos, que promoveu uma revolução até então impraticável (pelas circunstâncias): solo Cristo (somente Cristo), sola gratia (somente a graça), sola fide (somente a fé), e sola scriptura (somente as Escrituras).

2.      “PORQUE NELE...” SOLO CRISTO

            “Não me envergonho do evangelho de Cristo... porque nele...” (Rm 1.16,17). A frase “porque nele” tanto pode ser referir ao evangelho como a Cristo. A Almeida Corrigida preferiu interpretar que “nele” se refere a Cristo. Já a Almeida Atualizada e a Bíblia Na Linguagem de Hoje preferem entender que a referência é ao evangelho. Para o nosso argumento, ficaremos com a primeira hipótese.
Esta pequena expressão mostra o quanto dependemos de Cristo. Somente Cristo pode nos libertar. A Bíblia diz que muitos se escandalizavam nele (Mt 13.57), cuspiram nele (Mc 14.65); mas o próprio Pilatos não achou nele culpa alguma (Lc 23.22). Descobrimos que nele está a vida (Jo 1.4), todo aquele  nele crer não perecerá (Jo 3.16), todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome (At 10. 43), nele vivemos, e nos movemos, e existimos (At 17.28), todo aquele que nele crer não será confundido (Rm 10.11), em tudo fostes enriquecidos nele (1 Co 1.5), nele houve sim (2 Co 1.19), também nos elegeu nele (Ef 1.4), nele também fomos feitos herança (Ef 1.11), nele fostes ensinados (Ef 4.21), seja achado nele (Fp 3.9), nele foram criadas todas as coisas (Cl 1.16), toda a plenitude nele habita (Cl 1.19), devemos também andar nele (Cl 2.6), Qualquer que permanece nele não peca (1 Jo 3.16).
Nele, como referência a Cristo, tem um impacto tão forte, que o próprio Martinho Lutero abria mão de ter a glória de ver discípulos seus denominados luteranos, para poder enfatizar isto:

“A primeira coisa que peço é que as pessoas não façam uso do meu nome e não se chamem luteranas, mas cristãs. Que é Lutero? O ensino não é meu. Nem fui crucificado por ninguém. [...] Como eu, miserável saco fétido de larvas que sou, cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?” (Teologia dos Reformadores, Timothy George, página 55)

            O que Lutero queria mostrar era justamente isto: nada poderia substituir o lugar de Cristo no papel redentor. Nem ele próprio, Lutero, ardoroso defensor desta tese! Somente Cristo pode realizar aquilo que nenhum outro poderia fazer – ou seja, morrer na cruz por todos nós. “Nem fui crucificado por ninguém”, ressalta Lutero. Aí encontramos a verdadeira essência do solo Cristo: se todos os mártires que morreram por amor ao evangelho merecem louvores, estes louvores não podem abafar a obra que Cristo fez. Ninguém jamais poderá fazer isso. Por mais que alguém tenha feito, este não fez aquilo que Cristo fez: morrer na cruz em nosso lugar.

3.      “...SE DESCOBRE A JUSTIÇA DE DEUS...” SOLA GRATIA
        
            A Bíblia afirma categoricamente que somos salvos pela graça (Ef 2.10), graça esta que veio por intermédio de Jesus Cristo, e todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça sobre graça (Jo 1.16,17). Mas o que é a graça? É o favor imerecido de Deus. É uma palavra abundante em o Novo Testamento – aparece cerca de 135 vezes. Representa aquilo que Deus nos dá gratuitamente sem que merecêssemos sequer a trilhonésima parte. À época da Reforma, se contrapunha às indulgências.
            O que eram as indulgências? Em poucas palavras, era o perdão “comprado”. Oficialmente, “a remissão do castigo temporal devido ao pecado cuja culpa já fora perdoada” (Enciclopédia Católica 8, página 783). Ou seja, dentro da teologia romanista, tenta-se mostrar que uma indulgência não é diretamente responsável pelo perdão. Mas ao nível popular era este o objetivo da indulgência. Aproveitando-se dessa situação, foram muitos os abusos cometidos na época da Reforma, comercializando com o povo humilde o perdão de Deus. Ficou célebre a frase de Tetzel: “As indulgências salvam não só os vivos, mas também os mortos. E apenas a moeda tine no fundo do cofre, vossa alma será libertada do purgatório para o Céu” (A Reforma, Abraão de Almeida, página 62). Ora, se era comprado, anulava totalmente a graça divina. “Nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão ou dar a Deus o resgate dele  (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes)” (Salmos 49:7-8). Na sua tese 36, adverte Lutero: “todo cristão que sente verdadeiro arrependimento pelos seus pecados, tem direto a uma completa remissão do castigo e da culpa, sem que para isso necessite de indulgência”. Ainda na sua tese 21: “os missionários de indulgências, portanto, se iludem quando dizem que pela indulgência do Papa o homem se liberta de todo o castigo e se salva”. O comercio ilícito feito com as indulgências era desta forma atacada por Lutero, na sua tese 28: “o que sucede quando tine a moeda é que a ganância e a avareza aumentam, mas o resultado da intercessão da Igreja está no poder de Deus somente” (A Reforma, Abraão de Almeida, páginas 78 a 92).
Aqui jaz a essência do sola gratia: a salvação é pela graça, não pode ser comprada! Isto demonstra a justiça de Deus. Sendo a salvação pela graça, todos os homens estão nivelados diante de Deus. Ninguém pode argumentar que possui mais direitos dos que outros, devido a uma suposta maior capacidade sua. 
E hoje, parece que elas estão retornando – e pasmem, entre os evangélicos! Quantos pregam que a medida de sua fé é proporcional ao que você pode ofertar! O homem não consegue entender a justiça de Deus. Existe um falso conceito de que o barato não presta. Porém a salvação, o bem mais precioso do ser humano, é inteiramente gratuito. É ajustiça de Deus sendo manifesta de forma poderosa. E o homem necessita descobrir esta justiça!

4.      “...DE FÉ EM FÉ (...) MAS O JUSTO VIVERÁ DA FÉ.” SOLA FIDE

            A expressão de fé em fé mostra que em cada um dos crentes que manifesta esta fé no Salvador, corrobora-se a revelação da justiça de Deus. Devemos ter esta fé de tal forma que passamos a ser sinônimos de fé – o apóstolo Paulo poderia ter escrito “de crente em crente”.  Muitos vivem de sonhos e ilusões, outros vivem em torno de um ideal. Na qualidade de justificados pela graça de Deus, vivemos pela fé. Aqui é mencionado um versículo do Antigo Testamento – mais precisamente do livro de Habacuque. E qual foi o contexto no qual esta expressão de impacto foi pronunciada? Habacuque queria compreender os desígnios de Deus. Como Deus poderia deixar um povo – mesmo que fosse oseu povo eleito – impune? A resposta de Deus deixou Habacuque mais atordoado ainda: o Senhor usaria um povo mais cruel e ímpio – os caldeus. Como poderia isso? Novamente Deus responde de forma retumbante: “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé”(Hc 2.4). A Bíblia na Linguagem de Hoje dá o verdadeiro sentido: “A mensagem é esta: Os maus não terão segurança, mas as pessoas corretas viverão por serem fiéis a Deus.”
A expressão “de fé em fé” ainda pode ser entendia, como na Bíblia na Linguagem de Hoje: “É por meio da fé, do começo ao fim”. Ou seja, não podemos deixar de demonstrá-la, devemos perseverar.
O justo mostra que a justificação, ou seja, a declaração de que alguém é justo, é feita somente através da fé. Lutero insistia muito nisso. E é por isso que ele, o justo, pode viver. A vida daquele que serve a Deus não tem sentido se não possuir fé. Esta fé o faz caminhar, dia após dia.
Aqui jaz a essência da sola fide. Embora Lutero não tenha inventado tal expressão (era usada já por Agostinho, por exemplo), tornou-se a sua marca registrada. De todos os “gritos” da Reforma, este sem dúvida foi “o mais alto”. Mais alto, porque procurava contrapor às obras meritórias. Conforme declara Efésios 2.8,9: “Porque pela graça sois salvos,por meio da fé; e isso não vem de vós; [é] dom de Deus.  Não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

5.      “...COMO ESTÁ ESCRITO...” SOLA SCRIPTURA

Na época da Reforma, a Bíblia estava sujeita à Igreja. Não havia liberdade de interpretação, nem mesma liberdade para a sua leitura. A única tradução tolerada era a latina. Toda a autoridade residia nos concílios. Entre a tradição e o que diziam as Escrituras, era preferível ficar com a tradição da Igreja. A Bíblia ficou sendo um mero produto da igreja.
 Lutero mudou esta visão. Entre a Bíblia e a tradição, ficamos com a Bíblia. Todos os credos, os ditos dos pais a igreja, as decisões conciliares, deviam ser julgadas pela “norma infalível da Palavra de Deus”, e nunca julgá-la.
Lutero ainda ressaltava a inspiração das Escrituras, e não sua aparente produção exclusivamente humana. Também foi o pioneiro em enfatizar o caráter cristocêntrico da Bíblia. “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).
A expressão grega gegraptai (está escrito) aparece 65 vezes na Bíblia. Jesus mostrou a força desta declaração, ao rechaçar as tentações do diabo usando esta expressão e as Escrituras (Mt 4.1 – 10).
Será que hoje não estamos ferindo a essência do sola scriptura? O uso da Palavra de Deus nos púlpitos está sendo substituído por “chamarizes mais eficazes”. É a Teologia da Prosperidade, são os bailes e shows para atrair fiéis. Isto sem falar numa “tradição evangélica”. O que os primeiros pastores disseram, não deve ser discutido, mesmo que não possua respaldo bíblico. Cada vez mais tentam solapar a autoridade da Bíblia, ao tentar negar-lhe a inspiração divina. É preciso um urgente retorno às Sagradas Escrituras

6.      CONCLUSÃO

Não devemos “parar no passado”. Até porque, mesmo no calor heróico da Reforma, houve erros. A Reforma não foi algo perfeito. Mas devemos buscar nela tudo aquilo que nós perdemos. A “juventude perdida”, em algum lugar da história. Não devemos deixar que o Protestantismo entre em descompasso. Conforme o próprio Lutero afirmava, a Igreja deve estar em constante Reforma. Esta constante reforma não deve descaracterizá-la, antes reafirmar sua identidade. A Igreja hoje se encontra numa crise de identidade. Talvez se faça urgente uma retomada das raízes.


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