O Arminianismo é uma forma de
teologia protestante que possui ao menos alguma semelhança com os ensinamentos
de James Arminius (1560-1609). Em sua forma original, refere-se principalmente
à doutrina que diz que a predestinação está condicionada à resposta que o homem
(de forma livre) dá à graça de Deus - o ensino de Arminius era semelhante ao
dos protestantes Jonh Wesley e dos evangélicos conservadores deste século, tal
como o falecido H. Orton Wiley (veja Christian Theology, vol. 3.
1940-46). Na sua forma menos autêntica está associado ao Socinianismo,
Unitarianis-mo, Latitudinarianismo, e outras teologias liberais, que levaram ao
extremo certas ideias desenvolvidas por Arminius, principalmente sua tolerância
e ênfase à liberdade humana. Lambertus Jacobus van Holl, referindo-se a estas
ideias, fala sobre "o aumento do envolvimento do Arminianismo na teologia
liberal" ("From Arminius to Arminia-nism in Dutch Theology", Marís
Faith and Freedom, p. 27).
Os Antecedentes do
Arminianismo
Arminius não originou o que se chama hoje de Arminianismo, mas foi apenas o seu principal expoente. Logo depois
de ter se associado a tais ensinos, como a predestinação condicional, um grande
número de eruditos ou seguia naquela direção ou ensinava aquela doutrina.
É bem sabido o fato de que o
erudito Erasmo ensinou sobre a liberdade humana, em uma visão oposta à visão
Agostiniana de Lutero, embora Erasmo fosse humanista e, portanto, bem diferente
de Arminius, que viveu em uma época posterior.
Melancton parece ter gravitado na
direção da predestinação condicional (veja Caspar Brandt, The Life of James
Arminius, pp. 32-34).
Os Anabatistas, conhecidos mais
tarde como Menonitas ensinaram que a condição para a salvação é universal, e
que os homens dão o voto decisivo na sua condenação ou libertação. Embora
Zwingli e Calvino tenham ensinado a predestinação incondicional, essa visão não
era universalmente sustentada, e nem mesmo em sua própria terra, a Suíça. Em
Zurique, o ilustre Bullinger questionou durante um certo tempo os ensinamentos
de Calvino; e Jerome Bolsec e Charles Perrot, ambos de Genebra, também se
opunham a essa visão. Na Holanda, algumas décadas antes do Sínodo de Dort
(1618-19), a maioria dos ministros estava inclinada à predestinação
condicional. Theodore Beza, genro e sucessor de Calvino na Academia de Genebra,
onde muitos ministros foram treinados para as igrejas Reformadas, começou a
esperar que muitos dos estudantes dos Países Baixos fossem condicionalistas -
embora ele próprio fosse um supralapsariano, ou seja, aquele que crê que a
decisão de eleger alguns e condenar outros foi feita antes da criação e queda
de Adão. Na recém fundada universidade em Leyden, na Holanda, durante os seis
anos em que Arminius ali estudou, a maioria dos professores era "Arminiana"
(1775-1781). Nem a Confissão Belga nem o Catecismo de Heidelberg, os dois
maiores credos das igrejas Reformadas, tinham ensinado a predestinação
incondicional antes dos Cânones de Dort - a não ser no caso de alguma
inferência. Arminius estava certo de que eles não haviam ensinado claramente
aquela doutrina. Na Inglaterra, em 1595,foi negado o grau de Bacharel em
Divindade de Cambridge a William Barrett, porque ele rejeitou as visões
calvinistas de William Perkins, de Cambridge. Nesta época, o teólogo Peter Baro
foi destituído da sua posição em Cambridge pela mesma razão (veja Cari Bangs,
"Arminius and the Reformation", Church History, junho de 1961,
p. 7).Mas, dentre todos, Arminius era
indubitavelmente o mais capacitado, "De todos os agentes daquele movimento
[o retrocesso do Calvinismo], embora tão fértil de poderosos, ninguém
desempenhou papel mais notável, proeminente e exasperante do que Arminius"
(John Guthrie, "Translator's Preface". The Life of James Arminius, by Caspar Brandt. P. XIV).
Os Ensinos de Arminius
A "Declaração de Sentimentos
de Arminius" (veja The Writings of James Arminius, I, 193),
apresentada por ele perante as autoridades governamentais em Hague, em 1608,
transmite suas próprias ideias e dá 20 argumentos contra o supralapsarianismo
da Universidade de Leyden Francis Gomarus. Os argumentos de Arminius,
condensados, dizem que a doutrina é falsa porque ela transforma Deus em autor
do pecado. E nesse tratado também que Arminius apresenta sua distinta doutrina
dos decretos divinos. Enquanto os supralapsarianos ensinavam que o decreto de
salvar e condenar alguns indivíduos precedia o decreto de criá-los, Arminius
ensinava que o primeiro decreto era enviar Cristo para redimir os homens
pecadores; o segundo era receber na graça aqueles que se arrependessem e
cressem; o terceiro era ajudar todos os homens a se arrepender e crer (graça
impeditiva); e o quarto era salvar e condenar os indivíduos de acordo com o
conhecimento prévio de Deus, de uma forma em que eles responderiam livremente
ao dom da graça. É importante também, para um melhor entendimento dos ensinos
de Arminius, notar sua visão de liberdade humana. Em relação a isso ele não era
um pelagiano, embora fosse acusado disto durante a sua vida. Ao contrário do
antigo Pelágio, ele acreditava na queda da raça humana causada pelo pecado de
Adão; e embora acreditasse que o "poder do arbítrio" estivesse retido
no homem depois da queda, acreditava não ser possível para os homens caídos,
sem a ajuda da graça impeditiva, exercer esta capacidade de liberdade em
direção a qualquer coisa boa. Sobre o homem caído, natural, Arminius escreveu:
"Neste estado, o livre
arbítrio do homem em relação ao bem verdadeiro não está apenas ferido,
mutilado, débil, torto e enfraquecido; mas também preso, destruído, e perdido.
E estas forças não estarão apenas debilitadas e inutilizadas a menos que sejam
assistidas pela graça divina, e não terão mais qualquer poder exceto aquele que
lhe for instilado por esta preciosa graça. Porque Cristo disse, 'Sem mim, nada
podeis fazer'". (The Writings of Arminius, ed. por Nichols, I,
526).
Ele também escreveu:
"A mente, neste estado é
escura, destituída do conhecimento da salvação, e de acordo com o apóstolo,
incapaz das coisas que se relacionam ao Espírito de Deus. Porque 'o homem natural
não compreende as coisas do Espírito de Deus'" (1 Co 2.14; ibid.). Simultaneamente
a esta escuridão do espírito e perversidade de coração, está a fraqueza
absoluta de todos os poderes para realizar o que é verdadeiramente bom, e
negligenciar a perpetração daquilo que é maligno" (ibid., pg 527).
Como suporte, ele cita as palavras de Cristo: "Não pode a árvore... má dar
frutos bons". (Mt. 7.18), e "como podeis vós dizer boas coisas, sendo
maus?" (Mt 12.34). Dentre outros fundamentos, ele também cita João 6.44.
"Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer".
Depois de citar João 8.36. "Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente, sereis livres", ele diz. "Segue-se que a nossa
vontade não é livre desde a primeira queda; ou seja, não é livre para o bem a
menos que seja liberta pelo Filho através do seu Espírito" (ibid., pg
528). Sempre se supôs que Arminius sustentava a doutrina da santificação
absoluta, ou perfeição cristã (veja este erro em Marís Faith and Freedom, pp.
66-79). Mas Arminius não ensinou esta doutrina. E verdade que às vezes ele
parecia sugerir o ensino wesleyano. Sobre santificação, ele diz que esta é
apenas para os crentes, e que é uma atitude aceita por fé (Works, II,
120), e que é a "purificação do pecado". Ele tirou algumas ideias a
partir de uma compreensão wesleyana, através destas passagens, ao dizer.
"Esta santificação não se completa em um único momento, mas o pecado...
vai se enfraquecendo cada vez mais..." (ibid.). E também escreveu:
"Quem pode negar, quando as Escrituras afirmam, que há em nós os
remanescentes do pecado e do velho homem, enquanto vivermos nesta vida
mortal?" (II, p. 263). Arminius tentou fazer uma teologia realmente
bíblica. Ele sentiu que a filosofia estóica, ao invés da Bíblia, era a base da
doutrina da predestinação incondicional de Agostinho; porque os estóicos
ensinaram que existe uma lei de necessidade escrita dentro da própria natureza
da existência, à qual tanto o homem quanto Deus estão sujeitos. Arminius também
sentiu que os credos frequentemente se tornavam mais autoritários do que as
Escrituras, e acreditava que tanto a Confissão Belga quanto o Catecismo de
Heidelberg deveriam ser interpretados, ou talvez corrigidos através da Bíblia.
Arminius era também irónico,
embora fosse um homem pacífico e amoroso, que clamava não por uma uniformidade
rígida de crença, mas por tolerância. E irónico que durante seus últimos anos e
logo após a sua morte, o povo holandês tenha se posicionado de forma tão
apaixonada quanto à questão da predestinação, de tal forma que muitos chegaram
a se perguntar se a questão poderia causar uma guerra civil.
Arminius seguiu interesses
práticos ao invés de simplesmente especulativos. Ele escreveu: "Porque a
teologia que pertence a este mundo é prática... A teologia teórica pertence ao
outro mundo... Por esta razão, devemos revestir o objeto da nossa teologia de
tal modo que ela nos incline à adoração a Deus, e nos persuada completamente e
nos traga a esta prática" (Writings, I, 60). Durante séculos
pensou-se que Arminius já teria sido um supralapsariano Calvinista, e que
tivesse abraçado a doutrina da predestinação condicional. Supõe-se que esta
mudança tenha se dado depois de lhe terem pedido que apoiasse o
supralapsarianismo, contra o tipo de predestinação condicional que o humanista
holandês Richard Coornhert estava defendendo, e contra o sublapsarianismo de
certos ministros da cidade de Delft - o sublapsarianismo seria uma visão em que
o decreto de Deus para salvar ou condenar alguns indivíduos teria sido tomada
depois do pecado voluntário e queda de Adão. Peter Bertius afirmou que Arminius
mudou do supralapsarianismo para predestinação condicional. Bertius fez esta
afirmação em um discurso fúnebre na época da morte de Arminius, o que parece
ter influenciado aqueles que escreveram sobre Arminius desde então.
Embora esta questão não tenha
sido resolvida, Cari Bangs, a principal autoridade da atualidade nas questões
sobre Arminius, deu um exemplo interessante em relação à teoria de que Arminius
havia sido um con-dicionalista durante todos os anos, e não se casou
anteriormente com o supralapsarianismo (veja Cari O. Bangs, Arminius and
Reformed Theology, Univ. of Chicago Library, 1958). Bangs cita o fato de
que a única evidência elementar contrária é a afirmação de Bertius, mas que
Bertius não era tão próximo de Arminius quanto alguns pensaram. Bangs também
diz que Beza queria que seus alunos holandeses fossem condicionalistas, e assim
não se chocava com Arminius, mas ao invés disso recomen-dava-o amplamente na
conclusão dos seus estudos. Quanto ao motivo pelo qual teria sido solicitado a
Arminius apoiar o supralapsarianismo, Bangs sustenta que, (1) primeiro
solicitaram a outra pessoa, Martin Lydius, que por sua vez pediu a Arminius; e
que (2) talvez este pedido se destinasse a diminuí-lo, junto com seu
condicionalismo, em campo aberto. Um fator que isto não explica, entretanto, é
porque Arminius teria aceitado tal tarefa, se de fato já era um oponente do
supralapsarianismo.
O Arminianismo na Holanda
Em 1610, um ano depois da morte
de Arminius, 42 ministros e dois educadores se encontraram em Hague, e
prepararam e assinaram um documento que concordava de maneira geral com o que
Arminius havia ensinado. Escrito por John Uytenbogaert, o amigo mais próximo de
Arminius desde os tempos de estudante em Genebra, ele veio a se chamar Remonstrance,
e os seus assinantes, Remonstrantes. Este documento, dirigido ao governo da
Holanda, enumerava cinco doutrinas sustentadas por Uytenbogaert e seus
associados, e era destinado a ganhar permissão oficial, para a promulgação
daquelas doutrinas nas igrejas Reformadas da Holanda. A Remonstrance discute
certos problemas e também ressalta cinco diferenças doutrinárias entre o
Calvinismo e o que foi rapidamente chamado de Arminianismo. Na primeira parte
do documento, os Remonstran-tes tratam da parte das confissões na igreja, e
afirma que elas eram úteis, mas que poderiam ser mudadas a qualquer momento, e
que apenas as Escrituras possuem uma autoridade imutável.
Uma afirmação interessante na
primeira parte do documento, também é a sua visão de que as autoridades
seculares têm o direito de entrar em disputas teológicas, a fim de preservar a
paz e evitar cismas. Os Remonstrantes provavelmente imaginaram que as
autoridades seculares seriam mais tolerantes e mais objetivas como árbitros de
disputas teológicas, do que as autoridades eclesiásticas. Com exceção da
questão relacionada à dúvida de que se daria ao estado o direito de dominar a
igreja, este foi um passo dos Remonstrantes que, se fosse seguido nos anos
seguintes na Holanda, poderia bem ter garantido ao Arminianismo um status
oficial. Porém, uma corte eclesiástica foi convocada mais tarde (1618-19), e
condenou o Arminianismo.
A segunda parte da Remonstrance
rejeita os cinco artigos do Calvinismo e estabelece as cinco posições
opostas dos Remonstrantes. A primeira das cinco, de forma resumida, é o que se
deve chamar de predestinação condicional. o propósito de Deus de salvar aqueles
que se arrependerem e crerem, e condenar aqueles que não o fizerem. O segundo
ponto principal da posição dos Remonstrantes é que Cristo morreu "por
todos os homens, e por cada um deles em particular", e não simplesmente
por um segmento da raça humana que foi previamente destinada para a salvação
(veja Philip Schaff, The Creeds ofChristendom, III, 545ss). O terceiro
ponto está relacionado ao que pode ser chamado de graça impeditiva - o
propósito de Deus de ajudar homens pecadores a se voltarem a Ele.
O quarto ponto é que esta graça
pode ser resistida, e não, como os Calvinistas diziam, irresistivelmente
recebida. O quinto e último ponto é que tendo se tornado "incorporados a
Cristo pela verdadeira fé", Cristo "impede que eles caiam",
desde que apenas continuem a crer. Mas embora os Remonstrantes sejam cuidadosos
sobre esta questão, eles insinuam que se uma pessoa salva não continuar a
cooperar com Cristo ela se tornará "destituída da graça (salvadora)".
Quando a Remonstrance foi
publicada, o grupo Calvinista lançou a Contra-Remonstrance, na qual
deram a sua resposta.
O Arminianismo é Declarado
Ilegal na Holanda
A Holanda agora estava dividida.
Em 1610 e 1612 foram feitas conferências para ajudar a superar a disputa, mas
não foram bem sucedidas. Em 1614 o governo proibiu as discussões de púlpito
destas doutrinas. Então em 1617, o Príncipe Maurice, que era a favor do
Calvinismo, requereu um sínodo nacional para se reunir em Dort no ano seguinte.
De acordo com as Memórias de Simon Episcopius, este príncipe foi arrolado pelos
Calvinistas do lado da controvérsia contra o grande homem do Estado van Olden
Barnevelt. Maurice estava enciumado e com medo dele, e viu na disputa religiosa
uma oportunidade única de unir as províncias sob o seu controle. Decidiu-se
fazer do encontro em Dort um sínodo nacional para a União Holandesa, composta
de seis representantes de cada uma das sete províncias. Estes representantes
deviam ser escolhidos pelos sínodos provinciais; e por causa de certas
manobras, até mesmo das províncias da Holanda e de Utrecht, onde os Arminianos
eram maioria, quase todos os representantes eram Calvinistas. Na verdade, ao
todo havia apenas três Arminianos dentre 42 representantes oficiais; e somado
aos oficiais, 33 representantes estrangeiros foram convidados como visitantes,
todos eles Calvinistas. Além de tudo isso, os três membros Arminianos foram
impedidos pelas regras de defender o Arminianismo, e deixaram as sessões antes
de fazer o juramento "Calvinista" como representantes. Embora ao
orador Arminiano era permitido em algumas ocasiões responder às acusações
feitas contra eles, não havia debate aberto sobre os méritos das duas
teologias. Este sínodo condenou o Arminianismo como heresia, e proibiu sua
propagação nos Países Baixos - nos sete estados, ou seja, em sete dos 17
estados que compreendiam os Países Baixos, sendo os sete oficialmente chamados
de República das Províncias Unidas, ou a República Holandesa. As sessões do
sínodo foram concluídas em maio de 1619, tendo começado em novembro de 1618. Em
julho de 1619, a sentença do sínodo foi aprovada pelo governo e os
líderes Arminianos foram banidos ou presos. Era ilegal realizar encontros com
Remonstrantes, apoiar ou acolher qualquer um de seus ministros. Espiões foram
contratados para relatar aos líderes se qualquer um deles retornasse para
visitar suas famílias, e cerca de 18.000 tornaram-se mártires, mortos por
mercenários contratados pelo grupo Contra-Remonstrante. Apesar de todas estas
tentativas para desistirem da sua fé, os Remonstrantes sempre se reuniram; e sobreviveram,
mesmo sem prosperar. Em 1619 iniciaram uma organização chamada Irmandade
Reformada Protestante (Remonstrant Reformed Brother-hood), liderada por
John Uytenbogaert, Simon Episcopius (discípulo de Arminius), e Grevinchovius.
Quando o príncipe Maurício morreu, em 1623, a interdição contra os
Remonstrantes foi suspensa. Eles organizaram a Comunidade da Igreja Reformada
Remons-trante, que ainda existe como a Irmandade Remonstrante. Em 1634 fundaram
uma faculdade teológica em Amsterdã, tendo Episcopius como diretor e seu
primeiro professor de teologia. A faculdade ainda existe como parte da
Universidade de Leyden (veja G. O. McCulloh, ed., Man's Faith and Freedom, 1962,
pp. 5-7).
Fora da Holanda
Arminius e Arminianos em geral
sempre mencionam o fato de que os patriarcas tanto do Latim quanto do Grego
antes de Agostinho (354-420) eram condicionalistas. Já se havia dito que os
Menonitas que prosperaram na Alemanha eram Arminianos. Os Moravianos, que se
mudaram para os maiores estados de Count Zinzendorf na Alemanha, e que partiram
dali como missionários para muitas partes do mundo, eram Arminianos. Sua crença
de que qualquer um pode ser salvo, introduziu-os em um extensivo e comprometido
trabalho missionário, em uma época em que poucos cristãos estavam dispostos a
fazê-lo. Foi através do trabalho deles na América e na Inglaterra, que Peter
Bõhler encontrou John Wesley em Londres, e ajudou-o a ter a experiência de
receber um coração estranhamente aquecido. Na Inglaterra, havia alguns
predestinacionis-tas antes do casamento de Arminius com aquela doutrina de
disputas e publicações. Peter Baro. em Cambridge já foi mencionado. Seu
sucessor (1608), John Playfere, lecionou e pu-blicou sobre o livre arbítrio e a
possibilidade de redenção para todos os homens. Assim também fez o Arcebispo
Laud no início do séc. XVII, embora ele tenha ido ao extremo do ensino
Deiagiano. negando o pecado de Adão e Eva 'veja John Fletcher, Works, II,
276, 277).
Os Quakers, místicos e não
doutrinários em seus interesses, embora "Arminianos sem Arminius",
ainda assim ensinaram basicamente o mesmo que Arminius - que qualquer um pode
ser salvo.
John Goodwin ensinou o
Arminianismo na Inglaterra na metade do séc. XVII e influenciou diretamente
Wesley nessa direção (veja a dissertação de Ph.D de William Strickland's sobre
Goodwin. Univ. Vanderbilt, 1967). Jeremy Taylor e William Law também ensinaram
o Arminianismo e da mesma forma ajudaram a formar o fundador do Metodismo.
Muitos teólogos ingleses anteriores à época de John Wesley (1703-1791)
ensinaram um Arminianismo que poderia ser classificado como uma aberração. As
contaminações dos Pelagianos, Socinianos, Arianos, Universalistas e
Latitudinarianos foram introduzidas na oposição Arminiana a Calvino. E por isto
que John Wesley escreveu: "Dizer: 'Este homem é um Arminiano' tem, nos
ouvintes, o mesmo efeito de dizer, 'Este é um cachorro louco'. Eles começam a
tremer imediatamente..." (Veja a resposta à pergunta, "O que é um
Arminiano?" na obra The Works ofJohn Wesley, X, 358). Quando Wesley
iniciou a edição de um periódico em 1778, ele teve coragem suficiente para
chamá-lo de A Revista Arminiana.
Na verdade, existiam e ainda
existem tanto na Inglaterra como no País de Gales, dois braços do movimento
Arminiano. Geoffrey Nuttall, em um artigo apresentado em 1960 na Holanda, no
quatrocentésimo aniversário do nascimento de Arminius, disse: "O
Arminianismo autoconfesso na Inglaterra deve ser encontrado, essencialmente, em
um ou outro dentre dois movimentos contrastantes. Um destes dois movimentos
leva ao Arianismo, Socinianismo, e Unitarianismo, e eventualmente diminui em
número e influência. O outro permanece Trinitariano e Evangélico, e
aumenta". ("The
Influence of Arminianism in England", Man's Faith and Freedom, ed. por G. O. McCulloh,1962, p. 50).
Nuttall, na verdade, faz o traçado do braço "não autêntico"
nos registros das congregações locais no País de Gales e na Inglaterra, e
sustenta -através de um estudo histórico em primeira-mão - a sua afirmação, de
que a facção não autêntica decresce em números. Não era necessário tal estudo
para provar que o outro braço do Arminianismo Wesleyano, o "Arminianismo
sob fogo", tendia a aumentar em números e influência. Tão efetiva, de
fato, é a influência do Arminianismo Wesleyano, que estudantes universitários
na Inglaterra, anos atrás, encontraram-se escrevendo sobre o tema: "Desde
Wesley Somos Todos Arminianos". O Metodismo é o nome do movimento em que o
Arminianismo foi mais amplamente disseminado na América. Através do ensino de
que qualquer um pode ser salvo, os missionários metodistas (tanto os leigos
quanto aqueles que eram formalmente ordenados) espalhavam a doutrina da
predestinação condicional, enquanto a fronteira da América avançava para o
oeste. Assim, o metodismo se tornou a maior denominação protestante dos Estados
Unidos, sendo somente superada pelos Batistas do Sul na década de 1950.
Além de ser promulgado na América
através do Metodismo, o Arminianismo original foi ensinado neste país pela United
Brethren, pelo Exército da Salvação, e por muitas denominações Wesleyanas,
incluindo a igreja do Nazareno, dentre outros numerosos grupos
A Situação Atual
O
Arminianismo e o Calvinismo não estão agora tão distantes do que eram durante,
digamos, a primeira metade do século XX. Do lado do Arminianismo, mesmo dentro
da sua descendência Wesleyana, isto é, "Arminianismo sob fogo", as
tendências pelagianas se desenvolveram. John Miley, que lecionou no Methodism's
Drew Theological Seminary durante os últimos anos do séc XIX, combateu a
teoria representativa da "transmissão" do pecado original, uma teoria
que tanto Arminius quanto Wesley abraçaram, ensinando o chamado ponto de vista
genético, o pecado original seria recebido dos pais (veja a obra Systematic
Theology, II, 506). Além disso, Miley ensinou que nenhuma culpa contra a
raça humana resultou do pecado de Adão, enquanto que Arminius e Wesley
ensinaram que a culpa, assim como a depravação, passaram a toda a raça humana,
mas que a culpa foi removida pela expiação de Cristo como um "dom gratuito"
(Rm 5.16,17) a favor de toda a humanidade (cf. Robert E. Chiles, Theolo-gical
Transition in American Methodism 1790-1935,1965).
Além de Miley, que foi amplamente
estudado pelos Wesleyanos, Olin Alfred Curtis, seu sucessor em Drew, também
tinha uma tendência à doutrina pelagiana, sem enfatizar a graça e dando mais
destaque ao livre arbítrio. Seu maior trabalho, The Christian Faith (1905;
reimpresso pela Kregel em 1956), foi provavelmente o livro de teologia mais
amplamente usado nos círculos Wesleyanos-Arminianos antes da publicação dos
três volumes de H. Orton Wiley, Christian Theology (1940-46). Curtis é
kantiano em sua obra quando diz, "As atitudes são morais... apenas quando
expressam a concepção do dever do próprio homem..." (p. 61). Curtis é tão
kantiano que não deixa que a graça de Deus chegue incondicionalmente às
crianças que morrem, mas alega que estas aceitam a Cristo por si mesmas em um
estado intermediário. Ele diz, "No estado intermediário todas estas
crianças terão uma experiência pessoal completa com Deus, assim como
certamente.as nossas crianças a têm nesta vida" (p. 404). Para Curtis, o
homem é tão livre que "qualquer motivo na escala da consciência pode ser
escolhido..." (p. 44). Também de tendência pelagiana eram E. S. Brightman
e A. C. Knudson da Universidade de Boston, como mostra a obra de Brightman A
Philosophy of Religion de (1940), assim como outros trabalhos de sua
autoria. Knudson definiu liberdade como o poder da "escolha
contrária" (The Principies of Christian Ethics, p. 82). Ele foi capaz
de dizer que, longe da graça, os homens podem escolher contrariamente, porque,
para ele, a Queda do homem (o episódio em que Adão e Eva pecaram) é
"lendária" (p. 94). Tais homens como Miley e Curtis, Brightman e
Knudson foram mentores de muitos na teologia arminiano-wesleyana, e os
influenciaram em uma direção pelagiana. John Wesley basicamente concordava com
o que Arminius ensinou sobre liberdade. Assim como Arminius, ele ensinava que o
homem tem o voto decisivo em sua condenação ou salvação. Mas para Wesley, assim
como para os primeiros "liberalistas", o homem não pode por si mesmo
dar o voto de consentimento. Falando de si mesmo e de John Fletcher, Wesley
afirma que eles "negam completamente o livre arbítrio natural" (veja
a obra de Burtner e Chiles, Compend of Wesley's Theology, pp. 132-133).
Wesley continua, "Ambos afirmamos prontamente que a vontade do homem caído
é por natureza livre apenas para o mal" (ibid.). Acreditando que
negar o pecado original visão um tanto extrema da queda de toda a raça humana.
Ele ensinou que todo homem é "concebido em pecado", e que por esta
razão em cada homem existe uma "mente carnal" e esta é a própria
inimizade com Deus; ela não é, e não pode ser "sujeita à lei de
Deus", o que contamina completamente a alma que habita dentro de cada um,
"na sua carne". Assim, no seu estado natural, "não pode haver
nada bom", mas toda a imaginação dos pensamentos do seu coração é
maligna", somente maligna, e assim permanece "continuamente" (Standard
Sermons, II, 223). Wesley também imagina que todo descendente de Adão está
"... morto para Deus, totalmente morto no pecado; totalmente vazio em
relação à vida de Deus; destituído da imagem de Deus" (Works, ed.
por Emory, 401). Se o homem não está desprovido da imagem de Deus, esta imagem
está, no mínimo, totalmente desfigurada. E por isto que os wesleyanos-arminianos
concordam com Wesley, pensando que a "salvação começa com o que é
denominado (e muito propriamente denominado) graça impeditiva; incluindo o
primeiro desejo de agradar a Deus, o primeiro despontar de luz concernente à
sua vontade, a primeira leve e passageira convicção de ter pecado contra
Ele" (Ibid., VI, 509). Nas duas últimas décadas do "Arminianismo
sob fogo", as tendências pelagianas diminuíram e o arminianismo-wesleyano
despertou grande interesse. Isto se deu em parte por causa da ampla utilização
da antiga obra Christian Theology de H. Orton Wiley, que é
comprovadamente mais idealista do que Arminius e Wesley foram (por exemplo,
I. 255-319), mas que é basicamente Arminiana em seu sentido original. Isto se
deveu, em parte, a um avivamento do estudo dos pensamentos iniciais de Arminius
e Wesley. A diminuição dos interesses puramente filosóficos e o ressurgimento
do comprometimento bíblico, tiveram uma grande importância neste retorno às
persuasões de Arminius e Wesley. Como prova deste retorno, veja a obra The
Word and the Doctrine, um conjunto de volumes lançados em 1965 pela National
Holiness Association, contendo 37 artigos proferidos em uma conferência
nacional em 1964 sobre diferenças teológicas wesleyanas e arminianas. Ao mesmo
tempo, podemos dizer que o Calvinismo tende a se tornar menos Calvinista. Nem
todos os Calvinistas proeminentes da atualidade abraçaram o supralapsarianismo
de Theodore Beza e Francis Gomarus que eram da época de Arminius, nem mesmo o
sublapsarinismo do Sínodo de Dort. A maior parte dos eruditos também não ensina
a predestinação incondicional, contida na Confissão de Westminster. A Igreja
Cristã Reformada (Seminário Calvino) ainda o faz, juntamente com eruditos
ilustres no Seminário Teológico de Westminster. Porém vários eruditos
Calvinistas ligados, nos últimos anos, ao Seminário Teológico Fuller, por
exemplo, escrevem como os evangélicos arminianos. A Christianity Today, que
é sem dúvida a revista evangélica mais influente e divulgada voltada aos
ministros de nossos dias, não tem nem um pouco da rigidez Calvinista. Muitos
calvinistas hoje ensinam que qualquer um pode ser salvo; mas, de maneira geral,
ainda ensinam a segurança incondicional dos crentes - a segurança eterna.
Contudo, é interessante que Robert Shank (que é Batista), em sua obra Life
in the Son (1960), tente minar até mesmo a doutrina da segurança eterna.
Pode ser que no futuro ainda haja mais convergência entre as teologias
Arminiana e Calvinista, visto que as vãs filosofias humanas diminuem a sua
influência, e os evangélicos são cada vez mais ensinados pelas Sagradas
Escrituras.
Bibliografia. James Arminius, The Wri-tings of James
Arminius, trad. por James Nichols e W. R. Bagnall, Grand Rapids. Baker.
1-111.1956. Cari Bangs, Arminius and Reformed Theology, dissertação
de Ph.D. Dept. of Photoduplication, da Biblioteca da Univ. de Chicago, 1958;
"James Arminius and the Remonstrants", tese de B. D. não publicada, Seminário
Teológico Nazareno, 1949. E.
S. Brightman, APhilosophy ofReli-gion, Nova York. Prentice-Hall, 1940.
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J. K. G.
Fonte: Dicionário
Bíblico Wycliffe - Editora CPAD – Edição 2010.
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